quarta-feira, 27 de junho de 2012

Vindo de uma planeta distante...


Quando a cidade somente á noite e calada te impressiona, é a hora de saber que a presença das pessoas e o que pensa sobre elas não muda tanto assim seu mundo. Tem algo infantil nessa abóbada verde e nessa praça retangular que me faz sentir o cheiro do mistério das caixas de brinquedos nas vitrines. Cada olhar que é dirigido a mim vê um sorriso frágil ou um cubo neutro. Quando não existem olhares, há momentos felizes no encontro de algo próximo a sinceridade.

A mancha de tinta vermelha, a xícara de café, e o som das cordas de aço da guitarra do sétimo andar no domingo gelado de inverno que chega ao fim, me fazem relembrar o motivo de estar aqui. Essa cidade tem algo sujo que refresca em névoa a pureza que mantive nesses longos anos... A arte me pegou em cheio há alguns anos atrás e hoje exijo tanto de mim que nem sei por onde começar... Não que eu soubesse algum dia... Mas, essa praça me ajuda.

A infância sempre me encantou, a memória, a saudade, o tempo raivoso que nunca obedece ao ser. Sensações, fatos e sentimentos que mesmo nos sufocando angustiadamente dominam nosso querer e aguçam nossa curiosidade á revivermos não somente o objeto perdido, mas o tempo que também sabemos que impossivelmente não será o mesmo.
Ao mesmo modo que o artista deseja viver tudo o que representa em sua obra, deseja se manter ao longe, visualizar suas posteriores representações distantes do corpo que as sugará e as representará de alguma maneira. E isso inferniza e acolhe, estimula e some.
O inverno me faz bem, esse lugar me magnetiza, a arte e os diferentes ares que respiro me mantem viva, a distância me é necessária, pessoas distantes me fazem escrever, músicas me fazem sorrir, sinceridade me faz questionar, amores me fazem ser, dores me lembram de meu corpo frágil, gritos me ferem, silêncio me constrange, crianças me divertem, e vinhos bons melhoram tudo isso.
O estado de seu ser foi preparado por você, e também as lamentações...
A mesa do café será posta e a água esfriará logo...
O inverno faz bem a quem não encontrou a felicidade plena.

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