Tenho uma tesoura na mão, não me lembro de todas as coisas que já passaram pela sua navalha, é arriscado até de esquecer que ela se chama tesoura, sempre é... No meu pé eu tenho pequenos alfinetes, que mantenho e colho a cada novo ano... Na minha cintura eu tenho um relógio, onde sempre procuro trocar as pilhas cuidadosamente, não porque temo que ele pare, mas, porque sei que alguém sempre vê. Eu preciso de tudo o que eu: tenho.
terça-feira, 30 de março de 2010
sábado, 27 de março de 2010
Isso é a tua música.
som que nem som tem.
Precisa-se!
Estou cega, mas escuto,
estou muda, mas sinto.
tudo é molhado e frio, dentro de mim é fora.
Dói!
Oque sangrava, secou, mas ainda sinto algo molhando.
Mesmo cega posso ouvir um pedaço de pano sendo rasgado ou uma unha quebrada, jogada, perdida, abandonada, pisada, esquecida.
Sangue!
Não interessa, o que vale é a cicatriz,
o tamanho, a profundidade, a proporção.
Oque importa não é o tempo, é o não tempo.
som que nem som tem.
Precisa-se!
Estou cega, mas escuto,
estou muda, mas sinto.
tudo é molhado e frio, dentro de mim é fora.
Dói!
Oque sangrava, secou, mas ainda sinto algo molhando.
Mesmo cega posso ouvir um pedaço de pano sendo rasgado ou uma unha quebrada, jogada, perdida, abandonada, pisada, esquecida.
Sangue!
Não interessa, o que vale é a cicatriz,
o tamanho, a profundidade, a proporção.
Oque importa não é o tempo, é o não tempo.
Contagem Regressiva
Ela nunca esqueceu o cheiro de madeira velha, leve e quebradiça que tinha aquele lugar.
- um cheiro macio, ela dizia.
Eu ria muito:
- hehehe, como é um cheiro macio?
- o que eu sinto.
Quando tinha a oportunidade de estar em um casario de época ia cheirando as portas e as janelas tentando encontrar algo a mais do que só lembrança.
Tinha momentos de solidão como todos têm, mas o que diferenciava é que ela só havia tido um único momento desses, e ele permaneceu.
Quando ouvia algum som, seja em qualquer lugar ou em qualquer objeto, alguma parte do seu corpo de movia rapidamente, formava uma sincronia, era como se o movimento de seu corpo necessitasse ser mais rápido que o som que era ouvido e que mesmo assim viravam cúmplices. Tudo o que ela queria era descobrir o que ela realmente queria. As vezes ela inventava desejos e sonhos não tão anormais, para provar que também podia dormir sozinha.
O que eu lembro também é que ela detestava não se lembrar muito bem dos fatos que aconteceram na sua infância, talvez porque ela mentia muito ou porque perdia seu tempo cheirando janelas.
Ela lembrava, ela chorava, ela se secava, lembrava de novo, chorava mais uma vez, e fazia isso tudo enquanto comprava fósforos longos da cabeça vermelha no mercado da cidade que não era sua. O tempo passa rápido pra quem não sabe contar, no caso dela, chegava a falar com o relógio e a calculadora ao mesmo tempo.
Não conseguia aprender nada do que via, mas sabia ensinar perfeitamente aos outros o que não conseguiam ver. As coisas, tudo, sempre foram muito simples pra ela, porém, o simples é muito difícil pra quem não escolheu a realidade. Sobre o amor ela nunca disse uma única palavra, não questionava, não gesticulava, mas também nunca demonstrou não crer nele. Não sei por que, mas, ela falava sobre muitas coisas, mas sobre o amor, ninguém nunca ouviu nada.
Tinha medo de fazer certas perguntas, para certas pessoas e ouvir erradas respostas. Se não perguntava ela não era ouvida, então, perguntava, era ouvida, ouvia e ia dormir e se sonhava fingia ser muda. Eu não sei o nome dela, nem a altura ou qual era a cor que ela gostava de usar no sábado, fora essas coisas não posso escrever mais.
Vou aproveitar esse momento e fechar os meus olhos, comecei a sentir um leve cheiro amadeirado, velho e quebradiço e não quero saber do que já passou.
- um cheiro macio, ela dizia.
Eu ria muito:
- hehehe, como é um cheiro macio?
- o que eu sinto.
Quando tinha a oportunidade de estar em um casario de época ia cheirando as portas e as janelas tentando encontrar algo a mais do que só lembrança.
Tinha momentos de solidão como todos têm, mas o que diferenciava é que ela só havia tido um único momento desses, e ele permaneceu.
Quando ouvia algum som, seja em qualquer lugar ou em qualquer objeto, alguma parte do seu corpo de movia rapidamente, formava uma sincronia, era como se o movimento de seu corpo necessitasse ser mais rápido que o som que era ouvido e que mesmo assim viravam cúmplices. Tudo o que ela queria era descobrir o que ela realmente queria. As vezes ela inventava desejos e sonhos não tão anormais, para provar que também podia dormir sozinha.
O que eu lembro também é que ela detestava não se lembrar muito bem dos fatos que aconteceram na sua infância, talvez porque ela mentia muito ou porque perdia seu tempo cheirando janelas.
Ela lembrava, ela chorava, ela se secava, lembrava de novo, chorava mais uma vez, e fazia isso tudo enquanto comprava fósforos longos da cabeça vermelha no mercado da cidade que não era sua. O tempo passa rápido pra quem não sabe contar, no caso dela, chegava a falar com o relógio e a calculadora ao mesmo tempo.
Não conseguia aprender nada do que via, mas sabia ensinar perfeitamente aos outros o que não conseguiam ver. As coisas, tudo, sempre foram muito simples pra ela, porém, o simples é muito difícil pra quem não escolheu a realidade. Sobre o amor ela nunca disse uma única palavra, não questionava, não gesticulava, mas também nunca demonstrou não crer nele. Não sei por que, mas, ela falava sobre muitas coisas, mas sobre o amor, ninguém nunca ouviu nada.
Tinha medo de fazer certas perguntas, para certas pessoas e ouvir erradas respostas. Se não perguntava ela não era ouvida, então, perguntava, era ouvida, ouvia e ia dormir e se sonhava fingia ser muda. Eu não sei o nome dela, nem a altura ou qual era a cor que ela gostava de usar no sábado, fora essas coisas não posso escrever mais.
Vou aproveitar esse momento e fechar os meus olhos, comecei a sentir um leve cheiro amadeirado, velho e quebradiço e não quero saber do que já passou.
sexta-feira, 26 de março de 2010
O meu pé não pára de mexer
Tudo fica bem quando você não tem tudo o que deseja, os ruídos ficam mais bonitos e leves e as pessoas parecem inatingíveis. Ficar só é um dom, não é como ser um artista pobre, triste e faminto, a solidão capacita você, te sacia.
Você não consegue entender uma mancha de tinta grotesca e vermelha em uma parede velha e azul, no entanto você dá vida á torneiras fechadas, geladeiras, tocos de cigarro, janelas e ate conversa com seus sapatos quando está só. Na verdade sendo a solidão um dom, eu ainda penso em arte.
Você pode negar que se influencia por algo, mas quando uma brasa viva cai sobre a sua mão, deixando uma marca que você não esperava, aí você precisa pensar.Quando carrega nas costas até um poço qualquer, tudo o que sempre desejou, você não afunda teus sonhos, você afirma ser real e até vive o teu dom.
As coisas mais interessantes e caras na vida, você, não lê, nem compra, nem aprende, você vive, mas até isso você esquece. Então, cumprimente as quatro paredes frias do teu mundo, enxergue o fundo dos teus olhos antes que evaporem, fale com suas coxas, suas unhas, seus pêlos, suas axilas, seus pés, seu umbigo e suas nâdegas, enjoe de tudo isso e durma, acorde e veja que seus pelos e todo resto continuam com você e se você mudar de cadeira eles mudam também, tome água, fume mais um cigarro e se sentir fome não coma muito, o vaso sanitário não é muito confiável e você correra o risco de ter um inimigo dentro de suas paredes, e a respeito do som, escreva sobre ele, talvez ate o som mude depois que você aceitar a solidão.
Monique C.
Você não consegue entender uma mancha de tinta grotesca e vermelha em uma parede velha e azul, no entanto você dá vida á torneiras fechadas, geladeiras, tocos de cigarro, janelas e ate conversa com seus sapatos quando está só. Na verdade sendo a solidão um dom, eu ainda penso em arte.
Você pode negar que se influencia por algo, mas quando uma brasa viva cai sobre a sua mão, deixando uma marca que você não esperava, aí você precisa pensar.Quando carrega nas costas até um poço qualquer, tudo o que sempre desejou, você não afunda teus sonhos, você afirma ser real e até vive o teu dom.
As coisas mais interessantes e caras na vida, você, não lê, nem compra, nem aprende, você vive, mas até isso você esquece. Então, cumprimente as quatro paredes frias do teu mundo, enxergue o fundo dos teus olhos antes que evaporem, fale com suas coxas, suas unhas, seus pêlos, suas axilas, seus pés, seu umbigo e suas nâdegas, enjoe de tudo isso e durma, acorde e veja que seus pelos e todo resto continuam com você e se você mudar de cadeira eles mudam também, tome água, fume mais um cigarro e se sentir fome não coma muito, o vaso sanitário não é muito confiável e você correra o risco de ter um inimigo dentro de suas paredes, e a respeito do som, escreva sobre ele, talvez ate o som mude depois que você aceitar a solidão.
Monique C.
Olhe...
Amanhece também nesta cidade... Outros dormem...
" amanhecer", 2010. Acrílica sobre tela.
Se parassem e percebecem, qualquer coisa seria grande coisa se conseguissem para-lôs por algum momento. Eu não tentei, eu nem tento, porque eu faço, e por mais que pareça, está a toda a velocidade, a todo instante, ao contrário do que vejo todo o dia nas ruas desta cidade, de outras cidades, de televisões, folhas e escritos de outros lugares. O mundo está aí, mas você não precisa estar necessariamente junto com ele!
Exterior...
" Excessos", 2009. Acrílica sobre tela.
Sabe-se que por meio da lembrança um sentimento ou fato se faz presente com o signo da linguagem, do conhecimento, seja ela uma palavra, um sabor..., ao ser evocada, a lembrança que causa essa saudade faz um elo de tempo, onde o sujeito está ancorado no presente e no entanto trás para esse presente um símbolo do passado, assim, figuras de linguagem que designam tempo, estão no processo de atuação da saudade já que é por uma forma de recordar que esse sentimento vem a tona.
No processo de criação plástica, das telas, desconstrói-se dois corpos que são colocados em ultimo plano e separados pelas cores puras presentes nas formas que saem direto da bisnaga, as linhas e os primeiros planos( superficie), são produzidos ora com mais intensidade, ora não, apenas a cor pura, onde a camada vai ficando espessa e criando expressões acerca da saudade e dos sentidos, despertando no espectador a necessidade de novas reflexões a cerca do ser, abrindo uma interpretação através do abstrato.
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