Ela nunca esqueceu o cheiro de madeira velha, leve e quebradiça que tinha aquele lugar.
- um cheiro macio, ela dizia.
Eu ria muito:
- hehehe, como é um cheiro macio?
- o que eu sinto.
Quando tinha a oportunidade de estar em um casario de época ia cheirando as portas e as janelas tentando encontrar algo a mais do que só lembrança.
Tinha momentos de solidão como todos têm, mas o que diferenciava é que ela só havia tido um único momento desses, e ele permaneceu.
Quando ouvia algum som, seja em qualquer lugar ou em qualquer objeto, alguma parte do seu corpo de movia rapidamente, formava uma sincronia, era como se o movimento de seu corpo necessitasse ser mais rápido que o som que era ouvido e que mesmo assim viravam cúmplices. Tudo o que ela queria era descobrir o que ela realmente queria. As vezes ela inventava desejos e sonhos não tão anormais, para provar que também podia dormir sozinha.
O que eu lembro também é que ela detestava não se lembrar muito bem dos fatos que aconteceram na sua infância, talvez porque ela mentia muito ou porque perdia seu tempo cheirando janelas.
Ela lembrava, ela chorava, ela se secava, lembrava de novo, chorava mais uma vez, e fazia isso tudo enquanto comprava fósforos longos da cabeça vermelha no mercado da cidade que não era sua. O tempo passa rápido pra quem não sabe contar, no caso dela, chegava a falar com o relógio e a calculadora ao mesmo tempo.
Não conseguia aprender nada do que via, mas sabia ensinar perfeitamente aos outros o que não conseguiam ver. As coisas, tudo, sempre foram muito simples pra ela, porém, o simples é muito difícil pra quem não escolheu a realidade. Sobre o amor ela nunca disse uma única palavra, não questionava, não gesticulava, mas também nunca demonstrou não crer nele. Não sei por que, mas, ela falava sobre muitas coisas, mas sobre o amor, ninguém nunca ouviu nada.
Tinha medo de fazer certas perguntas, para certas pessoas e ouvir erradas respostas. Se não perguntava ela não era ouvida, então, perguntava, era ouvida, ouvia e ia dormir e se sonhava fingia ser muda. Eu não sei o nome dela, nem a altura ou qual era a cor que ela gostava de usar no sábado, fora essas coisas não posso escrever mais.
Vou aproveitar esse momento e fechar os meus olhos, comecei a sentir um leve cheiro amadeirado, velho e quebradiço e não quero saber do que já passou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário